Relacionamento bom também tem tédio — e tá tudo bem

Quando pensamos em um relacionamento saudável, a imagem que geralmente nos vem à cabeça é a de um casal cheio de química, sempre sorridente, trocando mensagens carinhosas, fazendo surpresas um para o outro, viajando juntos ou vivendo momentos dignos de uma comédia romântica. Mas a realidade costuma ser bem diferente, e tudo bem com isso. Um relacionamento de verdade, mesmo quando é bom, também a por fases de calmaria, de rotina e até de tédio. E aceitar isso é essencial para construir uma relação duradoura e madura.
Vivemos em uma época em que somos constantemente bombardeados com imagens de amores perfeitos. As redes sociais nos mostram casais vivendo aventuras, superando desafios com facilidade, se declarando todos os dias e exibindo momentos emocionantes como se a vida fosse sempre um destaque. Essa ilusão cria uma expectativa perigosa: a de que, se o seu relacionamento não estiver sempre vibrante e surpreendente, há algo errado com ele. Mas a verdade é que o amor real se constrói mesmo é nos dias comuns.
Sentir tédio em um relacionamento não significa que ele está falido ou que o amor acabou. Pelo contrário: o tédio pode ser apenas o sinal de que vocês se sentem confortáveis um com o outro. A convivência diária, com seus altos e baixos, cria um espaço onde não é necessário performar, onde não há pressão para agradar o tempo todo. É nesse espaço de tranquilidade que surge a intimidade genuína — aquela que não depende de palavras, de declarações exageradas ou de gestos cinematográficos.
É claro que momentos de desconexão não devem ser ignorados. Se o relacionamento está mergulhado em desinteresse, silêncio constante e afastamento emocional, é importante olhar com atenção e conversar a respeito. Mas nem toda calmaria é um problema. Às vezes, é só isso mesmo: uma fase de sossego. A rotina, tão temida por alguns, pode ser, na verdade, um terreno fértil para o crescimento de uma relação sólida.
O amor não se sustenta apenas em picos de emoção. Ele precisa de constância, de paciência, de cuidado diário. Amar também é saber compartilhar o silêncio, é respeitar o tempo do outro, é dividir momentos simples como cozinhar juntos, lavar a louça, ver uma série, ou até mesmo ficar cada um no seu canto fazendo suas próprias coisas. Essa presença silenciosa, que muitos interpretam como “falta de chama”, é, muitas vezes, a prova de uma conexão forte e madura.
Além disso, o tédio pode ser um convite para reinventar a convivência. Não como uma obrigação de estar sempre inovando para fugir da monotonia, mas como uma forma de se conectar de maneira mais leve e criativa. Às vezes, basta mudar o cenário, tentar um novo hobby juntos, planejar algo diferente no fim de semana ou até conversar sobre como vocês estão se sentindo. Relações que se permitem cair na rotina com consciência têm mais chances de evoluir de forma sincera.
Outro ponto importante é deixar de romantizar a ideia de que “amar é sentir borboletas todos os dias”. Isso é mito. O início de qualquer relação costuma ser mais intenso, cheio de descobertas, frio na barriga e ansiedade boa. Mas com o tempo, essas sensações naturalmente se transformam. O que antes era euforia vira aconchego. O fogo da paixão se transforma em calor humano, em companheirismo, em parceria real. E isso não é menos bonito. Na verdade, pode ser ainda mais profundo.
Portanto, é preciso mudar a ideia de que um relacionamento bom tem que ser perfeito o tempo todo. Relacionamentos reais têm dias incríveis e dias entediantes. Têm beijos apaixonados e silêncios longos com skokka. Têm risadas, brigas, reconciliações, rotina e, sim, momentos em que você se pergunta se está tudo certo. E sabe o que é mais libertador? Saber que tudo isso faz parte.
Relacionamento bom também tem tédio. E isso não é um problema — é só a vida acontecendo. A paz de um amor calmo pode ser exatamente o que muitos procuram, mas não reconhecem porque estão presos à ilusão de que amar é viver em estado constante de euforia. Amar também é saber descansar no outro. É saber que, mesmo nos dias em que nada acontece, ainda existe carinho, segurança e verdade. E isso, talvez, seja a maior prova de amor.